Neste domingo (17) chegará à baía de São José de Ribamar o primeiro navio laboratório do Maranhão, o “Ciências do Mar II”. O navio é o segundo dos quatro laboratórios de ensino flutuante concluídos com recursos do Ministério da Educação, destinados à pesquisa marinha na costa brasileira e a oferecer experiência embarcada aos estudantes. Ficará sob responsabilidade do Instituto de Ciências do Mar (ICMar), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), cuja responsável pela captação de recursos aos projetos de desenvolvimento é a Fundação Sousândrade.
O vice-diretor do ICMar, geólogo, doutor em Oceanografia, Francisco Dias, conversou com o Portal da FSADU, antes de embarcar para Fortaleza (CE) para buscar o navio com a tripulação, e compartilhou a expectativa de o Maranhão ser um dos quatro estados brasileiros escolhidos para receber o navio de 32 metros de comprimento, bem como a importância deste marco no estudo das ciências do mar. Acompanhe a entrevista.
FSADU- Qual a importância de um instituto como o ICMar no Maranhão?
Francisco Dias– A gente brinca que o homem conhece mais a lua do que o fundo do mar. Está na hora de o Brasil acordar, de a margem equatorial brasileira ser olhada de uma nova forma. Somos uma cidade costeira, uma ilha, e o povo do Maranhão tem que se apropriar dessa benesse oferecida pela natureza. Não tem como não fortalecer a ciências do mar num povo que é notadamente vocacionado ao mar, que já nasce com a vocação natural. Todo maranhense, ludovicense, conhece o que é um peixe de rio ou do mar, sabe quando está fresco ou não, conhece como salgar o camarão, então, acho que a ciências do mar vem abrilhantar o que já é de costume local, e o ICMAR veio pra tentar alavancar essa área tão importante da ciência do Maranhão e do Brasil.
O ICMar já está funcionando?
Ele começou a funcionar em novembro do ano passado (no prédio do Empreendedorismo na UFMA). E é mais que necessário agora, que a Universidade vai sediar um projeto de Brasil, um navio hidroceanográfico, o navio Ciências do Mar II, um navio que não é da UFMA, é do Estado do Maranhão. E é também dos nossos co-irmãos vizinhos. Vão poder usar os navios as universidades do Piauí, do Pará e do Amapá.
Pela primeira vez, teremos um equipamento capaz de alavancar o conhecimento dos recursos marinhos renováveis e não-renováveis dessa parte do Brasil, que, à exceção da foz do Amazonas, que é muito estudada pelas universidades estrangeiras e algumas brasileiras, o resto se conhece muito pouco.
É um navio para atender a esses Estados?
Isso. Inicialmente pode parecer pouco, mas para quem não tinha nada, é um avanço significativo. A médio prazo, este navio vai trazer muita expertise de formação de recursos humanos de alta capacidade de graduados, pós-graduados, mestres e doutores. E outras universidade poderão a vir a ter equipamentos como este, aumentando a capacidade de o Brasil conhecer seus recursos marinhos renováveis e não-renováveis.
Como nasceu o projeto do navio Ciências do Mar II?
O projeto nasceu de um grupo criado pela secretaria interministerial para recursos do mar da Marinha do Brasil e Ministério da Educação. Eles observaram uma lacuna no conhecimento da formação dos oceanógrafos do Sul e Sudeste em relação aos do Norte e Nordeste. Então, criaram um grupo chamado “Experiência embarcada” que rodou todas as universidades do Brasil, avaliando a estrutura dos cursos de graduação em Oceanografia, Engenharia de Pesca, Biologia Marinha, Geofísica e Geologia Marinha, levantando principais dificuldades e méritos.
Quando vieram ao Maranhão?
Em 2011. Professores das Universidades Federal do Rio Grande, Pernambuco e Fluminense vieram ao Maranhão e, após concluírem suas pesquisas em todas as universidades, produziram um relatório que norteou o projeto.
O que propuseram?
Inicialmente, a comissão pediu ao Ministério da Educação a construção de oito navios para a costa brasileira. Mas cada navio custa R$ 15 milhões. O Ministério não dispunha de orçamento para os oito, mas aprovou orçamento para quatro navios. Já é um grande avanço!
O primeiro já foi entregue em 2017, para a Universidade Federal do Rio Grande, atendendo ao sul do país. O segundo navio é o do Maranhão, que deve estar chegando neste fim de semana. O terceiro navio irá para a Universidade Federal Fluminense, com previsão de entrega para dezembro deste ano, e o quarto navio, em março de 2019, irá para a Universidade Federal de Pernambuco.
Com isso, toda a costa brasileira terá capacidade de ser estudada com os mesmos navios. Os navios são iguais, com os mesmos equipamentos. Isso, certamente, vai dirimir as desigualdades regionais.
A escolha para que um dos quatro navios ficasse no Maranhão foi devido às nossas baías?
Não, a escolha pelo Maranhão foi devido à capacidade da nossa reitora, professora Nair Portela. Ela que mobilizou a bancada federal do Maranhão, que fez toda a articulação junto ao Governo do Estado. Ela traz um investimento, em tempos difíceis, de R$ 18 milhões para a UFMA.
O navio vem com enxoval de custeio para contratação da tripulação, para manutenção do navio, com a promessa do Ministério de Educação de ser um projeto de Estado e não de partido político, pois são várias universidades envolvidas nisso.
Se não fosse a visão de futuro da reitora, este navio jamais navegaria em águas maranhenses. E por dois motivos: o primeiro é que existem universidades no Nordeste que são maiores que a UFMA. O segundo motivo é pela falta de expertise da UFMA. Em São Luís, nós temos o curso de Oceanografia, mas é relativamente jovem, de 2010. E o outro curso é o de Engenharia de Pesca, em Pinheiro.
Comparado a outros cursos de Oceanografia, Engenharia de Pesca, Biologia Marinha, Geofísica, Engenharia Naval e Portuária, Engenharia Costeira, nós temos pouca expertise, mas penso que o grupo que a professora Nair Portela montou para promover estudos de viabilidade, o apoio da EMAP (Empresa Maranhense de Administração Portuária) e o apoio da Prefeitura de São José de Ribamar foram fatores primordiais para fazer com este estandarte venha navegar em águas maranhenses, e isso é motivo de orgulho para quem gosta de ciências do mar.
Por que o navio ficará no cais de São José de Ribamar?
Analisando qual seria o cais mais viável para o acesso dos alunos, consideramos desde o início o de Ribamar, uma vez que toda vez que tivéssemos de ir à região portuária do Itaqui ou Ponta da Madeira, em São Luís, teríamos muitas barreiras fiscais, o que gerariam perda de tempo. E aí houve uma reunião com o ministro da Educação, Mendonça Filho, que veio a São Luís conversar com o governador Flávio Dino, reunião da qual participaram a reitora Nair Portela, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, professor Allan Kardec, e o ICMar.
O prefeito de São José de Ribamar, Luís Fernando, que estava presente na reunião, assim como outras autoridades, manifestou interesse muito grande de receber o navio no cais de Ribamar, coincidindo com o que já havíamos pensado. A baía do Arraial São José é uma importante baía, uma das principais bacias de drenagem do Maranhão, que é o rio Itapecuru, sobre a qual já existe grande área de pesquisa na UFMA.
O navio será aberto para visitação pública?
O povo maranhense tem que ter orgulho de ser da margem equatorial brasileira, e, naturalmente, estamos com um projeto para visitação pública ao navio, a fim de aproximar as pessoas do universo das ciências do mar. Será um projeto de extensão da UFMA, em parceria com a prefeitura de São José de Ribamar. Acredito que o maranhense vai abraçar o projeto. Isso tende a enriquecer a capacidade discursiva do maranhense no cenário nacional e levar o Estado para onde ele merece, que é o lugar de protagonismo.
O que o sr. teria a dizer aos alunos sobre esta experiência de estudar in loco?
O navio será de grande importância na formação de engenheiros costeiros, engenheiros navais, formação de geofísico, de oceanógrafo, engenheiro de pesca, entre outros. O Maranhão deixará de ser partícipe das decisões tomadas no Brasil e passa a ser protagonista. Vamos doutrinar que tipos de pesquisas vamos fazer. Passamos a ter voz e vez. Temos as reentrâncias maranhenses, o parcel Manoel Luís, a serem mais estudados. Estimo que este navio vai levar o Maranhão, a médio prazo, a um destaque nacional muito importante.